Sonso

Fim de domingo, ouço Elis cantando Aos Nossos Filhos, seguida por Atrás da Porta e depois nem sei mais, me afoguei nos pensamentos e divaguei. Eu estou buscando a tristeza, percebi. Queria a melancolia de antes, as dores de amor, a mágoa lancinante de mais uma paixãozinha abortada. Mas nada disso, não resta nada e me chateia não encontrar mais a tristeza. Não me encontrar no estado de graça e inspiração que somente a tristeza pode nos colocar. Eu não pedi, tampouco planejei, mas talvez seja um movimento involuntário de defesa e livramento, coisa metafísica mesmo, que me coloca assim chateado enquanto estado máximo que consigo chegar quando busco por um pouquinho de tristeza. É que sei, vejo e entendo, que tristeza não tem andado pro aí de pouquinho não, só vem enorme, avassaladora e voraz. Então que seja. Então tudo bem, eu sei ser sonso e vou aqui forjar um cadinho de tristeza para fazer minhas coisinhas: ouvir mais um disco dolorido, rabiscar um texto, ler todos meus autores mais complexos, prolixos e tristes. Penso muito em Caio e seu dragão. Não, ele não tem um dragão. O que seria de Caio nesse mundo de agora? E de Clarice!? Que livramento eles tiveram! Atônitos estariam. Meus ouvidos voltaram a dar atenção ao som que faz presença no ambiente: as aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões. Talvez o inverno… Talvez o invento me traga alguma pontinha de tristeza e eu até lembre como é que é chorar. E aí então, mais lúcido, menos sonso, eu sorriria de verdade. Mas tudo bem. Tudo bem…

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