Considerado como uma quase heresia por alguns, como algo impossível por outros e como algo vital para mim, eu sempre racionalizei o amor. Vital porque, tenho de confessar, sempre tive medo de mergulhar profundamente e não conseguir voltar à superfície, me perdendo então numa imensidão imprevisível e assustadora. A gente ajusta uma coisa ali, corta uma coisa acolá e aos poucos o sentimento vai sendo podado e tomando a forma mais viável e desejável. A essa altura, muitos devem estar pensando que o amor assim comedido é pura covardia, e talvez até seja mesmo, mas cada um sabe como a ferida lhe dói quando o amor desanda. Quem mantém a loucura de sustentar sozinho um amor tem como destino se perder em ilusões e prender-se ao nada, paulatinamente se anulando em função de outrem que não estabelece reciprocidade de sentimentos nem de intenções. Eu recuso a adoração, e fico somente com o amor, até porque dele não sou capaz de me livrar, pois germina involuntariamente e às vezes até de maneira inesperada. Contudo, amor não é ciência exata e o homem é suscetível à falhas: me descuido por um minuto e aquele grão no solo fértil cresce demais em mim, cria galhos que se expandem e explodem em versos piegas e realidades oníricas. Alucino… Abro os olhos, tomo ar e coragem para ir podar aqueles galhos salientes, mesmo querendo que cresçam mais e mais. Dói um pouquinho não permitir que se desenvolvam, mas não é dessa vez ainda que vai crescer uma árvore grandiosa e imponente. Podando e moldando até que vire um afeto bem bonito ou um carinho despretensioso, eu cultivo assim sozinho mais um dos meus bonsai.
Texto bonito.
Podar já que não pode se livrar do amor. Cultivar ele em você. Nobre.
árvore podada, amor atrofiado.
” … numa imensidão imprevisível e assustadora.”
A graça vem daí.
Ps.: Já faz um tempo que você não vem aqui, Darlan!
Ei, um bom texto falando sobre amor.
caraca, combina bastante comigo, então
até hj o meu preferido dos tantos que já li!
mega abx
Deixo a ti um trecho do poema “Simples” de Auta de Souza.
O amor é tão simples e tão complexo mas sem amor (por mais que racionalizado e pessoalmente é melhor racionalizado) não é possível sentir o simples.
“Eu amo as minhas lembranças,
Minhas saudades e dores,
Assim como amo as crianças,
Os passarinhos e as flores”. (Auta de Souza).
Abs, obrigado pela visita e desculpe a demora na resposta.