Eu sei das minhas falhas, dos hiatos inexplicáveis na nossa comunicação e na mutualidade do nosso cuidar, mas entenda que expectativas são mesmo isso. Também tenho as minhas queixas, nunca te pintei com traços românticos, tenho retinas impressionistas. O que capto não é forma, é movimento. Veja bem, eu nunca disse que iria carregar o peso da tentativa, porque não é só minha, é nossa e poxa, já fui tão explícito, solícito e, por vezes, até invasivo, que dúvida restou no meu querer? Eu não sou de declarações, mas ostento claridades, corro riscos frequentes na minha sinceridade de beira de abismo. E você é tão difícil de ver que deixa tudo tão com cara de primeira vez, sabe? As descontinuidades me atrapalham, fluidez e constância são primordiais, a vida não acontece em intermitência. Ainda que me encantem os seus medos virginais, eu não posso mais te assistir com os mesmos olhos. Eu quero mais, mereço mais. Já faz tempo que os joguinhos não me seduzem, só poesia não me sacia, lorota não me engana e fábula não me entretém. É que de um tanto já me aconteceu, eu não disponho da paciência que sua insegurança me exige, não quero e nem posso com nenhuma morbidez no meu cotidiano. Não sua, nem minha, mas essa coisa crescente e incômoda entre nós que vai pesando nosso riso quanto mais o tempo passa. Quero o que pulsa… Desejo-te sorte a cada renúncia e certeza a cada escolha, quanto a nós, reconheçamo-nos: promissores, nós fomos promissores. Mas e agora somos o quê? Retrocedemos à estranheza, evito prognósticos, acato às incômodas reticências. Eu que tanto quis, já não sei. Deve ter gosto de mofo a fome adiada.